06 dezembro, 2010

L.I.V.R.O - Millôr Fernandes

Millôr Fernandes: Um novo e revolucionário conceito de tecnologia de informação.

Na deixa da virada do milênio, anuncia-se um revolucionário conceito de tecnologia de informação, chamado de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas - L.I.V.R.O.

L.I.V.R.O. representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, pilhas. Não necessita ser conectado a nada nem ligado. É tão fácil de usar que até uma criança pode operá-lo. Basta abri-lo!

Cada L.I.V.R.O. é formado por uma seqüência de páginas numeradas, feitas de papel reciclável e capazes de conter milhares de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantêm automaticamente em sua seqüência correta.

Através do uso intensivo do recurso TPA - Tecnologia do Papel Opaco - permite-se que os fabricantes usem as duas faces da folha de papel. Isso possibilita duplicar a quantidade de dados inseridos e reduzir os seus custos pela metade!

Especialistas dividem-se quanto aos projetos de expansão da inserção de dados em cada unidade. É que, para se fazer L.I.V.R.O.s com mais informações, basta se usar mais páginas. Isso, porém, os torna mais grossos e mais difíceis de serem transportados, atraindo críticas dos adeptos da portabilidade do sistema.

Cada página do L.I.V.R.O. deve ser escaneada opticamente, e as informações transferidas diretamente para a CPU do usuário, em seu cérebro. Lembramos que quanto maior e mais complexa a informação a ser transmitida, maior deverá ser a capacidade de processamento do usuário.

Outra vantagem do sistema é que, quando em uso, um simples movimento de dedo permite o acesso instantâneo à próxima página. O L.I.V.R.O. pode ser rapidamente retomado a qualquer momento, bastando abri-lo. Ele nunca apresenta "ERRO GERAL DE PROTEÇÃO", nem precisa ser reinicializado, embora se torne inutilizável caso caia no mar, por exemplo.

O comando "browse" permite fazer o acesso a qualquer página instantaneamente e avançar ou retroceder com muita facilidade. A maioria dos modelos à venda já vem com o equipamento "índice" instalado, o qual indica a localização exata de grupos de dados selecionados.

Um acessório opcional, o marca-páginas, permite que você faça um acesso ao L.I.V.R.O. exatamente no local em que o deixou na última utilização mesmo que ele esteja fechado. A compatibilidade dos marcadores de página é total, permitindo que funcionem em qualquer modelo ou marca de L.I.V.R.O. sem necessidade de configuração.

Além disso, qualquer L.I.V.R.O. suporta o uso simultâneo de vários marcadores de página, caso seu usuário deseje manter selecionados vários trechos ao mesmo tempo. A capacidade máxima para uso de marcadores coincide com o número de páginas.

Pode-se ainda personalizar o conteúdo do L.I.V.R.O. através de anotações em suas margens. Para isso, deve-se utilizar um periférico de Linguagem Apagável Portátil de Intercomunicação Simplificada - L.A.P.I.S. Portátil, durável e barato, o L.I.V.R.O. vem sendo apontado como o instrumento de entretenimento e cultura do futuro. Milhares de programadores desse sistema já disponibilizaram vários títulos e upgrades utilizando a plataforma L.I.V.R.O.
tenho feito promessas que não tenho cumprido
tenho sido hipócrita
condenscendente com meu próprio egoísmo

machuca-me o erro alheio
pois sou eu quem erro
machuca-me o defeito alheio
pois eu quem peco

tenho feito discursos mentirosos
e falado pra toda gente calunia daquilo que não conheço
e dado aos outros o que não e meu

de pequenas torpezas
de algumas avarezas
de tudo tenho melindrado
escondendo-me dentro de um porão sujo
como rato que foge de ser caçado

e não quero me desculpar por nada
que não venham me perdoar
que seja isso
sou humano, nada mais

Pensamento

A única coisa que pode chegar próximo da verdade absoluta é essa crença, essa certeza íntima, as vezes apaixonada e cega, que os homens fazem de suas próprias convicções. Flávio Takemoto.

27 outubro, 2010

Head Mouse e Teclado Virtual

Do site dos Correios:

Headmouse e Teclado Virtual


O Headmouse e o Teclado Virtual são tecnologias inovadoras que permitem a portadores de deficiência física acesso facilitado à internet e ao uso de computadores pessoais. As duas aplicações podem ser instaladas em qualquer computador equipado com webcam de baixo custo. As ferramentas foram desenvolvidas pela empresa espanhola Indra, multinacional de tecnologia da informação com larga experiência na Europa e América Latina, em conjunto com a Fundação Adecco e a Universidade de Lleida, na Espanha.

Por meio de protocolo de intenções para cooperação assinado com a Indra, o Ministério das Comunicações e os Correios estão disponibilizando em seus portais na internet acesso ao site Tecnologias Acessíveis, da Indra, onde se encontram os softwares para download gratuito. As instruções de uso das ferramentas Headmouse e Teclado Virtual estão disponíveis no endereço http://www.indra-technologyaccessible.com/pt/index.htm.

O Headmouse é uma solução tecnológica que permite às pessoas com mobilidade reduzida controlar o cursor do mouse pelos movimentos da cabeça. O software interpreta funções como "arrastar" arquivos por gestos faciais e piscar de olhos. Complementando a aplicação, o Teclado Virtual facilita às pessoas com deficiência física a possibilidade de redação de textos sem a necessidade de utilizar as mãos, já que capta os movimentos faciais do usuário, replicando-os sobre o um teclado digital.

De acordo com a empresa, o uso do Headmouse é possível graças a algoritmos de visão artificial desenvolvidos para a área da robótica móbil. O usuário é capaz de utilizar de maneira intuitiva e natural o mouse virtual, sem nenhum tipo de formação ou conhecimento prévio. Uma vez instalado o software, não há necessidade de nenhum tipo de ajuda para acesso à configuração, nem para alterar os parâmetros oferecidos pelo sistema.

Também o uso do Teclado Virtual, que complementa o Headmouse, também não requer formação prévia. Ele funciona por meio de um aplicativo que aparece na tela do computador e permite a produção de textos mediante a pulsação de teclas virtuais. O sistema incorpora inovações tecnológicas que facilitam ao máximo a escrita para pessoas com mobilidade reduzida que não podem utilizar teclados convencionais de computador

O Teclado Virtual conta com funções de predição de palavras, cujos algoritmos aprendem com o modo de escrever do usuário e melhoram exponencialmente suas taxas de acerto. Os testes realizados para a produção e elaboração de textos literários extensos, entre 15 mil e 20 mil palavras, resultaram numa economia de até 40% nas pulsações de teclas necessárias para escrevê-las.


para baixar: http://www.correios.com.br/institucional/conheca_correios/acoes_cidadania/HeadMouseTvirtual.cfm

site da Indra Tecnologias: http://www.indra-technologyaccessible.com/pt/headmouse.htm

20 maio, 2010

O sossego passa rápido pela janela do ônibus
relances de cenas dos dias pitorescos
de gente bucólica

a garota balançando na rede da varanda

a senhora tratando das plantas

a poeira da estrada de chão célere se libertando

o velho fusca que se aposentou

o lençol dançando no varal

o cacho de bananas esperando madurar

uns brinquedos coloridos quebrados de criança

um casal de cadeiras esperando os velhinhos que partiram

a cerca que nada protege, separa a estrada poeirenta da tranquilidade

as placas "proibido ultrapassar"
e "reduza a velocidade" dão
notícia das coisas do sossego

desse tempo lento
desse mundo que vive
sem nós

Flávio Takemoto
Bueno Brandão - 15/05/2010

19 maio, 2010

Meu Portfólio

Só pra constar:

www.takemoto.com.br

---

Sou freelancer em videografismo (motion graphics artist), design e fotógrafia. Cursei Publicidade e propaganda na Faculdade Cásper Líbero e também sou técnico em Publicidade pelo colégio São Leopoldo e atualmente curso Ciências Sociais pela Unicid.

Sou paulistano, moro e trabalho na Capital, no bairro do Ipiranga.

Comecei minha carreira como programador de web e depois me tornei web designer. Após um tempo comecei a trabalhar como designer gráfico.

Já na faculdade, interessei-me pelo motion graphics ou videografismo, área em que desenvolvo meus trabalhos ultimamente.

A fotografia aconteceu como um hobbie e hoje está se tornando parte da minha carreira, área pela qual me apaixonei.

---

Experiência em Softwares:

  • Photoshop
  • After Effects
  • Plug-ins Trapcode
  • 3D Studio Max
  • Renders como Vray, Mentalray
  • e-On Vue
  • Illustrator e Corel Draw
  • Flash
  • Indesign
  • Adobe Premiere
  • Final Cut
  • Soundforge
  • Soundbooth
  • FL studio
  • XHTML
  • Asp.NET
  • Javascript, Ajax
---

Serviços:
  • Videografismo (motion graphics)
  • Animações 2D / 3D
  • Pós-produção
  • Vinheta
  • Broadcast design, ID, bumper
  • Apresentações Multimídia
  • Criação de Identidade Visual
  • Logomarca
  • Material Impresso
  • Design de Website
  • Web Banners
  • Intro em Flash
  • Mailmarketing

07 maio, 2010

Mapas Mentais

Brainstorms, mapas mentais, fluxogramas, anotações. Tudo isso pode ajudar no desenvolvimento de idéias novas, de planejamento de projetos, estratégias, minar a criatividade, onde quer que ela esteja escondida.


FreeMind - Utiliza plataforma Java - Gratuito
http://freemind.sourceforge.net/wiki/index.php/Main_Page



XMind - Versão simples gratuita - http://www.xmind.net/



Visual Understanding Environment - Opensource (free) da Tufts University http://vue.tufts.edu/


cmapTools - Free - Criado pelo IHMC (Institute for Human & Machine Cognition) possui versão Lite para notebooks e computadores mais antigos - http://cmap.ihmc.us/download/dlp_CmapTools.php?myPlat=Win


Mind42 - Ferramenta Online e com recursos de colaboração - http://mind42.com/



bubbl.us - Ferramenta Online - É possível salvar vários mapas e editá-los posteriormente. http://www.bubbl.us


Referências do site Alternativeto (http://alternativeto.net/SearchResult.aspx?profile=all&search=tag:mindmap&category=desktop) para mindmapping

04 maio, 2010

Chamado de Liz Coleman para a reinvenção da educação artística liberal



-> Use as legendas (subtitles) em português

---

"Na verdade, a educação em artes liberais já não existe mais, pelo menos a autêntica educação em artes liberais, neste país. Nós profissionalizamos tanto as artes liberais ao ponto delas não oferecerem mais a amplitude de aplicação e capacidade intensa de compromisso cívico, o que é sua marca registrada. No século passado o especialista destronou o generalista instruído, para se tornar o único modelo de realização intelectual.

A especialização certamente teve seus grandes momentos. Mas o preço de seu predomínio é enorme. As matérias são divididas em pedaços cada vez menores, com ênfase crescente no que é técnico e obscuro. Conseguimos até transformar o estudo da literatura em algo enigmático. Você pode até achar que entende o que está acontecendo naquele romance da Jane Austen. Isto é, até você dar de frente com o desconstrutivismo pós-moderno."

TED: Larry Lessig

TED Talks: alimentando sua criatividade

Waldez Ludwig - Criatividade versus Inovação

TED Talks: Adora Svitak: o que adultos podem aprender com as crianças



-> Clique em "View Subtitles" para selecionar a legenda em Português

TED - Ken Robinson diz que as escolas acabam com a criatividade



-> Você pode usar legendas em português.

Escravidão Moderna - TED



-> Utilize as legendas em português

01 maio, 2010

O auto-didata

O mundo não leva muito a sério o autodidata. Ignora, pois sente a necessidade do endosso e das insígnias prateadas dos anos em que se passa dentro de uma instituição.

Em meio à sociedade tecnocrata, utilitarista e pragmática, o véu do diploma, a necessidade da formação especializada, documentada, da dependência de tutores e instituições que possam anexar uma formação no currículo se faz quase uma obrigatoriedade.

Muitos não levam a sério aquele que se lança na empreita de adquirir o conhecimento de forma autodidata. O autodidata não adquire o conhecimento sozinho, uma vez que o verdadeiro autodidata trabalha, vivencia, compartilha e também absorve o conhecimento dos seus próximos, a única diferença é que não se apega a uma instituição para endossar aquilo que sabe.

Assim é o sistema; assim é o preconceito das pessoas que acham que é necessário cursar uma faculdade, fazer um curso, pagar para obter o conhecimento. A grande maioria das pessoas até pensam ser impossível aprender por si só, uma vez que elas não conseguiriam; nesse sentido, eu penso que é só tentar e se esforçar.

Não sou contra as instituições e tutores, do sistema educacional, do diploma. Sou contra ao preconceito e a falta de consideração para com aqueles que conseguem aprender por seu próprio esforço. Defendo mudar essa forma de ver o mundo estigmatizada e que as pessoas dessem mais valor e mérito aos autodidatas. Defendo que as pessoas sejam quistas pelo seu conhecimento, não por seus diplomas.

23 abril, 2010

Alguns aforismos

F. Takemoto

O única coisa que pode chegar próximo da verdade absoluta é essa crença, essa certeza íntima, as vezes apaixonada e cega, que os homens fazem de suas próprias convicções.

O conhecimento pode abrir diversas janelas em nossa própria percepção, só a ação pode abrir as portas.

Toda nossa percepção de realidade é limitada, seja num sentido "a posteriori" ou "a priori". A lacuna entre ser perfeito e imperfeito é exatamente ter total percepção da realidade.

A realidade é uma subcriação de nossa mente, que por sua vez é subcriação do espírito. Os processos que fazem minar a consciência da realidade em nossos maquinismo mental é decorrente de vastas e complexas interações de conhecimentos e experiências arquivadas em nossas memórias. Ora se uma realidade interna se expressa por meio de um acervo de nossas memórias e experiências (que também são memórias) a realidade é criação nossa e ela não é, pelo menos ontologicamente, do jeito que nós a criamos.

A ignorância pode ser uma necessidade por vezes. A ignorância pode ser o não saber, ou o não compreender, ou o não desejar compreender.

Cadê meus paradigmas?

Flávio Takemoto

O homem perde o chão e paredes onde se escorar, na medida em que seus territórios físico, emocional, intelectual, religioso, político se tornam imensamente grandes devido a imersão num modo de vida pós-moderno, pós-industrializado, multiglobalizado. É como se todas essas esferas fossem o sustentáculo da frágil existência do ser e de sua identidade, para consigo mesmo, para com o próximo e para com o coletivo, como chão e paredes em que nós estivemos apoiados por milênios e agora, de súbito, todas elas se afastam.

O homem com sua consciência ainda delicada e sua formação psíquica débil, não totalmente formada, não tem mais parâmetros no qual se sustentar, se equilibrar, as paredes invisíveis que o deixavam de pé e o chão que lhe promovia a sustentação, estão desvanecendo de acordo com o ritmo da multiglobalização.

O espírito coletivo começa a desaparecer com a individualização exacerbada do “eu”. Aquela conectividade e senso de coletividade, que manteve por milênios os homens reunidos, não somente fisicamente, mas sim espiritualmente e socialmente perde a função, dando lugar a meras necessidades de consumo, principalmente o consumo cultural.

Consumo cultural hedonista esse que está diferenciando pessoas e classes que podem ter acesso a shows, televisão paga, cinema, filmes, teatros, que horas são caros, ora são exclusivos, daqueles que não tem acesso, criando assim mais um tipo de desigualdade: a desigualdade cultural (no sentido do consumo desses produtos culturais).

Procuramos por essa liberdade, de nos livrarmos das paredes sufocantes e que tolhiam nossa criatividade, o nosso espírito inventivo, a nossa independência. Quando começamos a perceber libertos, começamos a nos debaldar diante mil possibilidades, a devorar sem vergonha ou limite tudo aquilo que a pós-modernidade multiglobalizada nos proporcionou. A facilidade tem um preço, o excesso tem um preço. Como organismo coletivo estamos em crise, passando mal agora. Não é hora de teorias apocalípticas de fins da sociedade, mas sim de tomar a consciência de que como um organismo vivo, a exacerbação pode gerar um câncer.

22 abril, 2010

Memória

Memória
Goethe – Institut Inter Nationes
Ano 45/2003/ Número 86

"Ao longo do tempo alternam-se obscuridade e luz, e o esquecimento possui em nossa vida uma porção tão grande como a lembrança. De nossa felicidade conservamos somente uma impressão superficial, e mesmo os golpes mais dolorosos logo cicatrizam de novo. Nossos sentidos não estão capacitados a enfrentar o extremo, e o sofrimento acaba conosco ou consigo mesmo."
Sir Thomas Browne, 1658.

Aleida Assmann
A gramática da memória coletiva. O Estado, a Igreja ou uma empresa não têm memória. As instituições e entidades “criam” para si uma memória recorrendo a símbolos, textos, imagens, ritos, práticas e monumentos.

É preciso constatar que a capacidade de lembrar-se, por mais falível que seja, é que faz do ser humano um ser humano. Sem ela, não seríamos capazes de construir uma identidade própria nem de nos comunicar com outros enquanto indivíduos. As lembranças biográficas são indispensáveis, já que são a matéria da qual se constituem as experiências, os relacionamentos e sobretudo a imagem da própria identidade. Apenas uma pequena parcela de nossa memória está elaborada lingüisticamente, constituindo a espinha dorsal de uma biografia implícita. A maior parte de nossas recordações está latente dentro de nós e espera ser despertada por um ensejo externo. Essas lembranças tornam-se então repentinamente conscientes, adquirem de novo uma presença sensorial, podendo sob condições propícias ser expressas em palavras e incluídas no acervo de um repertório disponível. Às memórias indisponíveis e às disponíveis, acrescentem-se ainda as inacessíveis, que são mantidas cerradas sob a vigilância de guardas chamados recalque ou trauma. Estas lembranças são dolorosas ou vergonhosas demais para poderem ser resgatadas para a superfície da consciência sem ajuda de fora.

Em termos gerais, podemos distinguir certas características válidas para as lembranças individuais. Primeiro: elas são fundamentalmente perspectivas, ou seja, de caráter subjetivo e, portanto, impermutáveis e intransferíveis. A história familiar, por exemplo, é lembrada a partir da perspectiva do irmão mais velho de maneira significantemente diferente da do irmão mais novo. Segundo: elas não existem isoladamente, mas estão ligadas às lembranças de outros. Por meio de sua estrutura baseada em cruzamento, superposição e conectividade, elas se confirmam mutuamente. Com isso, não só adquirem coerência e verossimilhança, como também favorecem a ligação e o espírito comunitário. Terceiro: elas são fundamentalmente fragmentárias, limitadas e informes. O que surge num lampejo em forma de lembrança são em regra apenas fragmentos, momentos desligados, sem um antes e um depois. Apenas através de narrativas é que eles adquirem uma forma e estrutura, por meio das quais são ao mesmo tempo completados e estabilizados. Quarto: são voláteis e instáveis. Algumas recordações modificam-se juntamente com a pessoa e suas condições de vida, com o correr do tempo, outras desvanecem-se ou perdem-se por completo. Especialmente as estruturas relativas à relevância e os padrões de avaliação transformam-se ao longo da vida, de modo que o que parecia relevante perde-se aos poucos em importância e o que era secundário pode adquirir significado, retrospectivamente. As lembranças compiladas em narrativas e freqüentemente repetidas são as que melhor se conservam, mas se dissolvem naturalmente com a morte da pessoa que se recorda.

O trajeto da memória individual para a coletiva não é o de uma simples conclusão analógica. Instituições e corporações não dispõem de uma capacidade de recordação do tipo da memória individual, pois nelas não existe nada que corresponda ao fundamento biológico, disposição antropológica e mecanismos naturais desta. Por isso é que sempre se levantaram vozes alertando para o conceito da memória coletiva como sendo uma pura mistificação. Tal ceticismo não deveria, contudo, fazer com que se eliminasse o conceito de vez, já que ele tem em vista fenômenos perfeitamente palpáveis pelo método empírico e que se distinguem claramente das condições da memória individual. Instituições e corporações como as nações, os Estados, a Igreja ou uma empresa não tem memória, elas criam para si uma memória, servindo-se para tal de símbolos e sinais memoriais, textos, imagens, ritos, práticas, lugares e monumentos. Com essa memória, as instituições e corporações criam ao mesmo tempo uma identidade para si próprias. Essa memória não contém mais momentos espontâneos e involuntários, por ser construída de maneira intencional e simbólica. É uma memória da vontade e da seleção calculada. A construção da memória cultural distingue-se significativamente da memória individual em três das características apresentadas. Ela não tem uma estrutura apropriada para o estabelecimento de conexões e a formação de redes, tendendo pelo contrário a formar uma unidade coesa. A memória de uma nação, por exemplo, não está ligada à de seus vizinhos; não toma conhecimento de que do outro lado da fronteira sejam escolhidos outros pontos de referência históricos, ou de que os mesmos acontecimentos do passado sejam enfocados de forma totalmente diferente. Tampouco ela é fragmentada, mas fundamenta-se em narrativas que, à semelhança de mitos e lendas, têm uma estrutura narrativa e transportam uma mensagem clara. Por fim, ela não existe em forma de elemento instável e volátil, mas baseia-se em sinais simbólicos que fixam, generalizam e uniformizam a lembrança, tornando-a passível de ser transmitida para além dos limites das gerações.
Mas, ao lado dessas diferenças claras, existe também um importante ponto em comum. Tanto a memória individual quanto a coletiva são determinadas por uma perspectiva definida. Ambas caracterizam-se por não terem em vista ser tão completas quanto possível e por não poderem assimilar de tudo, baseando-se numa seleção estrita. Por isso é que o esquecimento é parte constitutiva tanto da memória individual quanto da coletiva. Nietzsche utilizou um conceito da óptica para descrever esse caráter fundamentalmente perspectivo da memória. Falou de “horizonte”, referindo-se ao limite do campo de visão determinado pelo ponto de vista. Além do mais, Nietzsche entendia por “força plástica” da memória a capacidade de estabelecer um limite o mais claro possível entre a lembrança e o esquecimento, um limite que separa o importante do não importante, ou melhor, o que é útil à vida do que não lhe é útil. Sem esse filtro, dizia Nietzsche, não poderia haver a formação de identidade (ele falava de “caráter”) nem uma clara orientação para o modo de agir. Em sua opinião, reservatórios excessivamente cheios de conhecimentos levariam a uma desintegração da memória e, portanto, à perda de identidade.

Não é difícil determinar quais critérios seletivos foram determinantes para a formação de uma memória coletiva. Neste sentido, é especialmente característica a construção de uma memória nacional. Trata-se no caso, regularmente, dos pontos de referência na história que fortalece a auto imagem e que harmonizam com certas metas de ação. Mas derrotas também podem tornar-se pontos de referência centrais na história, desde que possam ser integradas numa narrativa martirológica do herói trágico. Derrotas são comemoradas com grande patos e pompa cerimonial, quando uma nação fundamenta sua identidade na consciência do sacrifício, quando a lembrança de uma injustiça sofrida precisa ser conservada a fim de legitimar reivindicações e mobilizar resistência heróica. Um exemplo são os israelenses, que fizeram da fortaleza de Massda, caída durante o domínio dos romanos, um memorial político de seu novo Estado. Neste caso, a lembrança da derrota tem uma força mobilizadora. Ela não debilita, mas sim fortalece, por estar ligada à advertência: “Nunca mais ser vítima”. Por isso, a memória coletiva de uma nação é receptiva tanto para momentos históricos de sublimidade quanto de humilhação, desde que eles possam ser elaborados na semântica de uma imagem histórica de heroísmo.

O que, pelo contrário, não é admitido a entrar para a memória são momentos de culpa e vergonha, visto que estes não podem ser integrados numa auto-imagem coletiva positiva. Até há pouco tempo, dificilmente se podia falar de experiências traumáticas da história, porque não havia para elas padrões culturais de elaboração. É o caso dos nativos de diversos continentes, perseguidos e extintos; dos africanos levados como escravos; e dos judeus vítimas do genocídio no contexto da II Guerra Mundial. Somente aos poucos vão se constituindo novas formas de lembrança coletiva que na cabem mais nos padrões de uma posterior heroificação e atribuição de sentido, mas que são elaboradas para o reconhecimento universal do sofrimento e a superação terapêutica de seqüelas paralisantes. Neste contexto chega-se também a uma nova elaboração da culpa dos algozes na lembrança de seus descendentes, que não mais ignoram os capítulos sombrios de sua história por meio do esquecimento, senão os estabilizam na memória coletiva e os integram na auto-imagem da nação.

Isto significa que, de umas décadas para cá, regras fundamentais na gramática da memória coletiva mudaram. A lei básica da memória – o princípio da seleção e da criação de um horizonte – continua válida, porém a linha divisória que separava o que é útil à vida do que não lhe é útil tornou-se problemática enquanto critério único de seleção. A honra – triunfante ou humilhada -, que por séculos determinou o código da memória nacional, concedendo-lhe a estrutura básica de seleção do que seja digno de ser recordado, no futuro não poderá continuar sendo o único padrão de avaliação das lembranças. Isto está relacionado com a nova consciência das conseqüências a longo prazo de experiências históricas traumáticas, que criou novas precondições para a organização da memória nacional, válidas tanto para as vítimas quanto para os algozes. Faz parte das principais inovações que agora não existe uma ligação intrínseca entre perdoar e esquecer, da mesma forma que ela não existe entre lembrar e vingar. O que vale muito mais é que a lembrança conjunta de algozes e vítimas constitui um melhor fundamento para a coexistência pacífica do que o esquecimento conjunto. No caso de uma lembrança traumatizada como a dos sobreviventes do Holocausto, a máxima da força curativa do esquecimento cedeu lugar à reivindicação ética da lembrança conjunta.

Vivemos numa época em que os parâmetros da lembrança e do esquecimento estão sendo submetidos a uma revisão fundamental. Tudo isso é reforçado pelo fato de que, com a passagem para o novo milênio, entramos numa época do transnacionalismo. Na era das nações, as memórias nacionais construíam-se na Europa sem levar os Estados vizinhos em consideração. Num país comemorava-se o que um outro tentava esquecer; num se glorificava o que era injuriado num outro. A construção perspectiva das memórias nacionais fazia com que uma se chocasse com a outra, originando uma problemática substância inflamável que só podia ser neutralizada por meio de ignorância mútua.
Na sociedade mundial, as nações se tornaram mais próximas, o que tem conseqüências também para o solipsismo da construção de suas memórias. As nações hoje não apenas estão mais conectadas pela globalização tecnológica, como também mais ligadas umas às outras por uma globalização ética. Portador deste desenvolvimento é um grupo, crescente em tamanho e importância, de observadores não diretamente envolvidos, os quais tentam difundir através dos novos canais de comunicação normas universalistas e padrões interculturais. Esta nova perspectiva transcultural de observação não dissolve de maneira nenhuma os horizontes específicos das memórias coletivas e das formações culturais, mas ela os tem em seu campo de visão e questiona criticamente a respeito de suas conseqüências prejudiciais para as relações interestatais e interculturais. Em função da crítica observação mútua, as nações não se podem mais permitir formações de memórias agressivas e revanchistas. Acrescente-se a isso reivindicações de reconhecimento das vítimas da própria história. Depois que se evidenciou quão importante é a participação das construções da memória coletiva na configuração política do futuro, levanta-se a reivindicação de uma auto-reflexão crítica dessas construções da memória. A questão não pode ser a dissolução das construções da memória coletiva – elas são indispensáveis e continuam sendo fundamento da formação de identidade e da orientação para o modo de agir -; trata-se apenas de tornar inofensivos seus potenciais perigosos.(Primeira parte de um texto extraído do catálogo A Memória da Arte. História e Lembrança na Arte Contemporânea, Museu Histórico e Schirn Kunsthalle, Frankfurt, 2000)

Aleida Assmann é professora de Anglística e de Teoria Literária na Universidade de Constança. É especializada em história dos meios de comunicação, em especial da escrita, história da leitura e memória cultural. Publicou em 1999 Erinnerungsräume. Formen und Wandlungen dês kulturellen Gedächtnisses (Ed. Beck, Munique).

15 fevereiro, 2010

O amor, que não pode ser explicado, logo, não existe
poderia ser decifrado, se fosse jogo de palavras
acabaria enfim, se tivesse começado

Nos esforçamos para compreender
algo que nem mesmo sabemos explicar

Muda, como a percepção de cada ser
inconsistente, como nossa subjetividade
a poesia, e só a poesia, pode de forma superficial,
observar seu real sentido

E toda ciência quer achar
que o amor pertence à química

E toda filosofia quer achar
que o amor pertence aos homens

E toda religião quer achar
que o amor pertence ao espírito

logo, os escritos do espaço-tempo
do próprio vórtice que se verte
registra acumulado em sí
toda essas miudezas de uma palavra amor

não que toda verdade seja minha
mas que a verdade é própria
passa pelos meus olhos de criança
e adormece em meu corpo envelhecido

E assim, nessa grande epopéia
o amor, creio, criado por Deus
ainda é como o próprio Deus
Inalcançável; e não se faz revelar, pois não é preciso

tudo e nada é o amor.


25 / 01 / 2010

25 janeiro, 2010

Inconstante

Caminho por caminhos do ser inconstante

redescobrindo a miséria e andarilho itinerante

Sem demasiadas longas paradas firmo pouco,

em cada lugar de distantes lugares, meus louros


Repentinas convulsões do passado aquém

me lembram de tudo, de todos, de quem

Morava intimamente em cada fibra minha

saiu e sumiu sem querer; assim quis a sina


Não basta o que tenho neste momento agora

já que a dor de desejo insensato me assola

Tirania egoísta me sufoca, ensandesse e ilude

quais ondas de mares agitados, bravios, amiúde


Traga consigo o bálsamo de tua dimensão

respostas certas pra livrar-me deste porão

Único grão sobrado de tão imenso deserto

paixão que me vence, equilibra de certo


[A minha sede é de estar perto]


Flávio Takemoto - 11 / 08 / 2006 - São Paulo